Julyene - Projeto Passarinho

09/05/2016

''“Tudo porque pari em casa...”

Sou Julyene, tenho 30 anos, sou doula, artesã e graduanda em Biologia, mãe da Jasmim de 4 anos e do Lótus com dias de nascido. Eu estava grávida de 5 meses do pequeno quando entrei em contato com a Rhuanny interessada em participar do Projeto Passarinho. Decisão essa que eternizou minha história de luta contra essa alienação aos padrões da modernização que trata o parto como patológico onde preciso parir no ambiente hospitalar. Fazer parte do projeto representa ir contra esses padrões, poder ser livre pra tomar decisões e se expressar da forma que quer, seja de tirar a roupa ou de parir em casa. Representa Liberdade!

Hoje o Lótus está com 11 dias, é uma bebê lindo e perfeitamente saudável, mesmo eu não cumprindo as regras imposta pela sociedade para uma gestação e parto seguro. Tomei um rumo completamente diferente no meu gestar. Fiz um pré-natal bem básico, não fui uma paciente assídua da minha ginecologista obstétrica, fiz 1 exame de sangue bem amplo, 3 ultrassonografias no total, optei por não tomar as vacinas e suplementos receitados por ela, salvando o ácido fólico, pois pesquisei e consultei uma amiga nutricionista e é um suplemento altamente indispensável. Enfim, tentei gestar o mais naturalmente possível com o mínimo de intervenções, algo bem conversado e decidido por mim e meu companheiro Rafael. Foi muito complicado pois fui taxada como louca irresponsável por muitos quando tomei essa decisão. Escutei críticas, fui julgada, mas nada que me fizesse mudar de ideia. Senti todos os sintomas naturais de uma gravidez, enjoos, azia, dores, emoções a flor da pele, e, mais uma vez, todos combatidos de forma bem natural com chás, massagens, conversas. Também decidi ter meu filho em casa. Encontramos uma parteira tradicional em Ipioca, a Dona Carmelita, porém ela precisou viajar pra cuidar da saúde quando eu já estava com 8 meses. Como já estava em cima do 9º mês, o parto foi sem assistência de parteira ou algum responsável da área da saúde. Mas também foi uma decisão minha e de meu parceiro, apoiado por familiares. Mais um motivo pra ser taxada de louca irresponsável... Chegou o dia então e Lótus deu sinal. Meu trabalho de parto começou no domingo, mas só na terça a noite evoluiu e ficou ativo. Quarta a tarde ele nasceu. O Parto foi maravilhoso! Nasceu meu filho e eu renasci! Em momento algum fui pra maternidade. E quem diria que não ir me daria tanta dor de cabeça... Meu filho precisou de atendimento médico por ter magoado o umbigo. Fui na maternidade, se negaram a atende-lo por ele não ter nascido lá. Fui em uma emergência pública, não puderam atende-lo pois não tinham o material necessário pra fazer o atendimento, me mandaram ir pra uma maternidade. Expliquei que já tinha vindo de uma e expliquei o porquê de não terem atendido meu pequeno. A médica precisou fazer um encaminhamento pra aceitarem atender meu filho. Na outra maternidade o pediatra atendeu meu filho, mas sai mais desesperada do que quando entrei. Quando eu disse que pari em casa o pediatra fala “Meu Deus, em pleno século 21!”. Além de tudo que ouvi calada em prantos enquanto ele atendia meu filho. Críticas em cima de críticas, tudo porque simplesmente decidi parir em casa. Ainda hoje enfrento dificuldades por essa decisão. Tem 1 semana que tento registrar meu filho, peregrinando de cartório em cartório, saindo todos os dias e passando o dia inteiro na rua com o pequeno debaixo da asa, sem poder dar as vacinas que ele precisa, sem poder fazer os exames necessários porque ele ainda não foi registrado, tudo porque pari em casa... Tenho em mente que é só o começo, mas que um dia vai ter fim. Nada que nos faça desistir. Mesmo com tantos muros a frente, os que já pulamos, os que estão por vir, nada vai fazer com que eu me arrependa das decisões que foram tomadas. Pois toda história tem suas glórias e suas guerras. História essa que vai ser a mais linda contada por mim ao meu filho, pois vai ser a nossa história!'' -Julyene Farias

{Guaxuma, Alagoas, Brasil}